domingo, 8 de novembro de 2015

Movimentos Separatistas na Espanha ganham força


A independência e o fortalecimento dos movimentos separatistas de Bascos e Catalães


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Thalita Rodrigues, São Paulo 08/11/15

Em novembro de 2014, aconteceu o tão esperado plebiscito na Catalunha, uma das regiões mais ricas da Espanha.

Esse plebiscito foi realizado com o intuito de independência para os Catalães, incentivado pelos movimentos separatistas que se fortalecem ao longo da história, e quase sempre tem um conflito étnico ligado a eles sejam sobre questões religiosas, culturais, e até mesmo pelo idioma.

Os conflitos da Catalunha e até do País Basco tem suas raízes ligadas a todos esses fatores. O que mais fortaleceu esse desejo de independência para esses dois povos, foi a ditadura de Francisco Franco, que durante trinta e oito anos, reprimiu todo e qualquer tipo de manifestação, proibindo até mesmo o uso do idioma catalão e basco.

O especialista e professor de História, Guerra e Modelismo  Bruno Güiguer,  esclarece: “Concluímos que eventos como esse são em ênfase e indevidamente, consequências de cunho histórico. Ambas as manifestações são somente exemplos de ações históricas que pesam sobre nossa sociedade atual de maneira intensa. Caso não houvesse por exemplo a intervenção ditatorial de Francisco Franco, provavelmente essas regiões já estariam separadas da Espanha”.

E completa: “Mas não é só isso, a fixação de diferentes povos nessas regiões ao longo da história certamente geraria tais discussões territoriais, e o que vemos hoje é somente uma consequência disso. Cabe à Espanha, bem como toda a Europa lidar diplomaticamente com uma questão inerente ao fragmentado velho mundo, com toda a sua peculiaridade e especificidade étnica, politica, religiosa e social. ”

O que motivou o plebiscito na Catalunha, foi o plebiscito realizado na Escócia, que apesar do resultado ter sido continuar a pertencer ao Reino Unido, permitiu que os escoceses decidissem seu futuro nas urnas.

O País Basco também se manifestou através do Grupo ETA (“Pátria Basca e Liberdade”) a favor de que a sua região também decida sua permanência ou independência através das urnas.

Porém especialistas afirmam que para o País Basco, o risco de repressão do governo espanhol é muito alto e o resultado da votação seria inferior ao dos catalães.

Mas, além das questões culturais, temos as questões geopolíticas e econômicas, que entrariam nesse plebiscito e teriam grandes consequências.

A Professora e Doutora em Geografia, da Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL, explica: A geopolítica da Espanha acaba ficando comprometida, porque se trata de dois territórios que fazem divisa com o outro país, a França, e que ao mesmo tempo possui acesso ao litoral, no caso ao sul e ao norte, que podem facilitar, no caso do sul, o acesso ao continente africano ou até mesmo o acesso via marítima a outros países da Europa, e no caso do acesso ao norte, pode facilitar o contato com a Inglaterra por meio do litoral. Quando um país perde esses territórios que possibilitam esse acesso, muitas vezes acaba ficando dependente dos outros países, e num momento de conflito, pode acontecer que tanto o país Basco quanto a Catalunha venham a privar a Espanha de usar esse território como um fluxo, e isso poderia prejudicar muito a economia espanhola. Se a gente fixar nas questões da cultura e do nacionalismo, o fortalecimento cultural será extremamente positivo. Mas se pensarmos no lado econômico, até esses territórios se reestruturarem, reorganizarem, sendo um país independente da Espanha, levando em consideração o tempo uma crise poderá ser gerada dentro desses territórios. A Espanha sairá perdendo por que ela perde território e isso não é positivo para nenhum país, e além disso ela perderá também a economia, e muitas vezes os recursos naturais que estão presentes nesse espaço”, completa a especialista.

O Plebiscito
Mesmo com esses pontos a serem analisados, no dia 10 de novembro de 2014, teve-se o resultado do plebiscito na Catalunha, onde a votação simbólica somou oitenta por cento dos votos, mesmo sendo considerada ilegal pelo Tribunal Constitucional espanhol.

Apesar de ter sido um plebiscito não aprovado pelo governo espanhol e ter sofrido forte oposição do governo de Madrid, o líder do Executivo catalão, Artur Mas, foi positivo com a votação e afirmou ter sido um plebiscito que abrirá portas para uma votação formal.

Chegado o ano de 2015, no mês de setembro, aconteceu as eleições na Catalunha, onde cerca de quatro milhões de pessoas foram depositar seus votos nas urnas, e elegeram deputados independentistas, isso em um referendo que havia apenas duas opções “Sim”, para a separação, e “Não” para a manutenção do país unido.

A eleição mesmo sendo oficialmente regional ganhou “ares” de referendo sobre a independência Catalã, numa votação que bateu o recorde de participação com 80% dos eleitores, onde os catalães elegeram 72 parlamentares que desejam que o Estado se torne um novo país europeu.

Apesar de terem conseguido a maioria dos assentos no Parlamento os separatistas não conseguiram a maioria absoluta em número de votos, porque as eleições são proporcionais. Sendo assim, um candidato de uma região menos populosa precisa de menos votos para se eleger do que aquele que representa uma região com maior densidade populacional.
No caso catalão, regiões de menor população elegeram mais separatistas, consequentemente fazendo com que a coalizão alcançasse um grande número de cadeiras, mas não a maioria absoluta dos votos.

Coalizões
Nas próximas semanas acontecerá a constituição do parlamento regional e a formação do novo governo na Catalunha, isso tudo enquanto se aproximam as eleições legislativas na Espanha, previstas para dezembro na qual é provável que o debate catalão siga presente.

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